Se buscarmos atentamente pela história da humanidade, a veremos como um ciclo praticamente interminável de reviravoltas: uma nova ordem é imposta, e logo a oposição emerge no intuito de derrubá-la. Isso resulta em grandes histórias de opressão e heroísmo, e nomes se consagram como mártires e vilões.
Esta é a essência de Delóyal, um jog escrito pelos parceiros Rafael Araujo e Jorge Valpaços, do respeitado Lampião Game Studio e publicado pela editora Pensamento Coletivo. Em torno de uma cidade fictícia (e homônima do jogo), os jogadores serão seus Libertadores – homens e mulheres determinados a derrubar o regime que a dominou. O controle sobre Delóyal é pleno e muito bem estruturado, mantido com mão de ferro e silenciando a população; apenas a Trupe de Libertadores é capaz de fazer frente a esse regime.
E, nesse sentido, o jogo trabalha muito bem. O sistema L’Aventure, apresentado aqui, trabalha de modo simples e funcional, voltado para histórias de heroísmo e sacrifício. O jogador escolhe um entre os Conceitos disponíveis para seu Libertador (assim são chamados os personagens no jogo), cada um caracterizado pelo seu Supra (sua especialização/conhecimento de maior destaque), e depois distribui dados (do d4 ao d10) em suas Perícias.
A mecânica de resolução do L’Aventure é bastante simples: basta rolar o dado da Perícia apontada para o momento de ação, e o número obtido vai determinar o tipo de desfecho para sua resolução, da Falha até um sucesso Crítico. Para complementar o sistema, usa-se modificadores (para simbolizar circunstâncias ficcionais) e um sistema interessante de Boa ou Má Fortuna (rolando dois dados iguais para a Perícia, e escolhendo o melhor resultado – para a Boa Fortuna – ou o Pior – para a Má Fortuna). Esse efeito pode se acumular, traduzido em modificadores para essa rolagem especial.
O sistema é complementado pela presença do Dado de Sentença (usado para rolagens associadas à morte do Libertador), e o Dado de Triunfo (usado para orientar as narrativas em propósitos específicos, e também para atingir o objetivo final da Trupe de Resistência).
Mesmo com tudo isso, as grandes sacadas de Déloyal são, para mim, duas:
Primeiro, o grande apelo à criação coletiva. Déloyal é uma cidade construída pelo grupo de jogo, assim como aqueles que a tomaram. Antes de formular seus Libertadores, o grupo constrói a cidade, suas ameaças e suas condutas cruéis perante o povo. Tudo isso em uma sequência simples de perguntas. Um momento elegante, e também unificador, impulsionado pelo jogo.
Segundo, a abertura informal do sistema ao público. Ao longo do texto, o sistema L’Aventure é apresentado de modo breve, e aberto, ao seu leitor – quase dissociado de seu contexto. E isso é muito convidativo aos jogadores que buscam um sistema para emular um cenário de sua preferência. Some a isso o pacote de cenários oferecido inicialmente em sua campanha de FC, e agora liberado ao público, e você terá um sistema eficiente para jogos voltados ao heroísmo.
Então, se o seu forte é a conspiração e luta pela liberdade em um estado oprimido, adquira o seu Déloyal agora mesmo. Agora, se você procura por um sistema versátil e voltado para a ficção, também faça a sua parte. Pois, o que você terá nas mãos não deverá em nada aos aclamados jogos independentes estrangeiros dos quais somos grandes fãs.
Vila la Revolución! o/